segunda-feira, 18 de abril de 2011

CENTRO EM MOVIMENTO


Eaê xomanos, futuros participantes do EREA Cuiabááááá!!!! Aí vai um pedaço de Cuiabá, um pedaço de história dessa terra de tão grande coração, sentimento mais presente ainda entre os moradores mais antigos. Este texto antecipa o início de uma das atividades do nosso encontro  :)

  Vou de uma janela para outra, olhando e pensando! Quanto tempo ainda resta para olhar a minha Prainha.

Dá uma dor no peito, um aperto no coração e meus pensamentos  divagam , se perderam entre o passado, presente e o futuro. É difícil!
     Relembro, e tudo volta à minha mente, são apenas 12 anos de Prainha, no entanto é como se fosse muito mais.
Relembro as crianças brincando, hoje rapazes, as moças e as mães. Vou até a área de serviço, vejo Kamal sentado na escada da casa dos fundos, fazendo seu churrasco, e Selene grita: vem! A cerveja tá geladinha, geladinha, tá descendo redonda. E a gente fica tomando a geladinha, comendo aquele churrasco e jogando conversa fora. Kamal, com aquela Túnica branca mais parece aqueles árabes que só se vê na TV. Meus olhos procuram alguma coisa no passado. Kamal, Imad (gordo) e Rian já se foram para o andar de cima, e de lá estão acompanhando nossa luta, e com certeza pedem  a Deus ou Alá, que tudo acabe bem.
     Acompanho a cada empresário em sua luta no dia à dia. A correria para manter seus negócios funcionando. Somos uma “Grande Família”,  para mim não tem o rico, o médio, e o pequeno,  gosto de todos! Sabemos os nomes uns dos outros. Conhecemos seus funcionários ,e eles  nos conhecem também. Fazemos confidências uns aos outros, nos cuidamos, nos respeitamos e nos amamos.
     A gente se cuida por medo de assalto, de incêndio, de acidente, se ama e se respeita por que cativamos uns aos outros. Assim o Centro e a Prainha continuam  em movimento. São histórias vividas que vou guardar na memória e em fotos.
     Continuo na janela da sala, vejo dona Andressa encostada na grade da porta; seu olhar também está perdido em algum lugar do tempo. Conversamos e ela me diz: não sei Francisca se vou resistir a nova desapropriação, aqui nasci, cresci, casei, tive meus filhos e também meus netos, e no alto de sua sabedoria de quase 90 anos me conta a primeira desapropriação da “Prainha”, para torna-la  avenida Tenente Cel Duarte e a canalização do córrego que hoje é esgoto.
     Foi triste! Comentou Dona Andressa com olhos marejados, relata detalhe por detalhe. Sofremos muito! E agora Francisca: o que será feito de nós? Fico agoniada, vou até seu  Dito, sentado em frente a sua lanchonete no “beco do candieiro”, em um ponto tradicional de Cuiabá “Ranchinho do Guaraná. Hoje, ele já não me olha mais desconfiado, pois conquistei sua confiança,então ele me mostra onde era sua casa antigamente, hoje o amarelinho, e começa a contar: como sofremos, a gente não tinha nem onde fazer nossas necessidades fisiológicas, veio o trator e foi derrubando tudo, até nossos sonhos  Nasci aqui! Também, banhei nas águas do córrego da Prainha; casei tive meus filhos, e só saio daqui pra minha ultima morada.
     Depois desta conversa, vou caminhando e encontro seu Isidoro, seu Benedito Borralho e outras pessoas queridas da velha e da nova Prainha. Estou em frente a escadaria do Morro da Luz e encontro Dona Joaquina que ajudou a construir a escadaria, colhendo assinaturas.
 Nosso morro!
 Ele é lindo!
Após longa estiagem, sinto o seu pulmão respirando, e seu coração batendo forte e aliviado. Passou o perigo do fogo. Como cuidávamos dele durante a estiagem, somos vários os seus guardiões, a qualquer sinal de fumaça estávamos a postos para que o fogo não consumisse com sua vida, vegetal e animal.
Eu, Jairo e Selene, sempre ficamos esperando a ultima folha do pé de camburu cair e ai sim, vinha a chuva. Suspirávamos aliviados, o perigo do fogo estava passando, e a vida ia retomar seu curso natural.
Nem Chico e Chica, e sua descendência, acho que hoje passam de 15 macaquinhos , correm mais perigo. Os passarinhos desde pardaizinhos e outras espécies deixariam por um bom tempo de invadir nossas cozinhas atrás de comida.
E minha criação de gatos de rua! Todos me conhecem e eu os conheço também.
Anoitece e eles começam a miar  para pedir comida ou pra mostrar sua nova prole. Saio sim!
Vou eu em açougues e peço restos de carne, assim eles não comem os pássaros e nem os gambazinhos do morro, e quando isso acontece, fico uma fera com eles.
  E quem não conhece Jucelino, aquele que cuida de carros ao longo da Prainha e a noite dorme no estacionamento do prédio, dorme não,  guarda seu colchão, pois quem vive nas ruas não deve dormir à noite. Ele vem correndo e pergunta: Mãe, mãe vão derrubar nosso prédio, não deixa ele cair! Pra onde eu vou?
  Me perco em pensamentos, de repente  escuto:
“Pega ladrão, pega ladrão!”. Volto pra realidade.
Disco 190. Agoniada, ligo para o coronel Walter e ele me responde: calma dona Francisca, os meninos já estão chegando ai.
Olho na janela e sorrio não da situação mais para a Prainha que graças a Deus continua EM MOVIMENTO.   

Crônica de Francisca Lopes Xavier

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